Padre alvo da Lava Jato tem fazenda e carros não declarados

Gim Argello e o padre Moacir

Relatório da Receita Federal aponta que o padre Moacir Anastácio de Carvalho, da Paróquia São Pedro, em Taguatinga (DF), não declarou a propriedade de uma fazenda, no Ceará, e dois carros, um deles uma Toyota Hilux. Dono de um patrimônio de 3,3 milhões de reais, o padre começou a ser investigado na Operação Lava Jato após a paróquia que ele comanda ter recebido 350.000 reais da construtora OAS, a pedido do ex-senador Gim Argello (PTB-DF).

“O contribuinte declara como ocupação principal ‘sacerdote ou membro de ordens ou seitas religiosas’. Consta que a construtora OAS teria repassado 350.000 reais, em 2014, à paróquia sendo a despesa vinculada à obra da Refinaria do Nordeste (Abreu e Lima)”, informa o relatório.

O parecer é datado de 16 de junho e foi anexado aos autos da Operação Lava Jato na terça-feira, 2 de agosto. No documento, a Receita aponta que o patrimônio do padre em 2013 era de 3,216 milhões reais, em 2014, de 2,449 milhões, e, em 2015, de 3,339 milhões de reais. A variação de 2014 para 2015 foi de 889.975,42 reais. “Em 2013 e 2015 o contribuinte teve indício de variação patrimonial à descoberto. Nestes anos o aumento de seu patrimônio foi em valor maior do que os rendimentos declarados ao Fisco”, indica o relatório.

De acordo com a Receita, dois veículos registrados em nome de Moacir Anastácio de Carvalho não estão na lista de bens informados à Receita nas declarações de imposto de renda. Um dos carros é um Honda Titan, verde, de 2001. O outro é um Toyota Hilux, preto, de 2010. Outro bem não declarado ao Fisco, segundo o relatório, é uma fazenda na região de Tamburil, no interior do Ceará. O município tem uma população estimada em 25 mil habitantes e fica a cerca de 300 quilômetros da capital Fortaleza.

“Consulta ao CAFIR – Cadastro de Imóveis Rurais – apontou que o Sr. Moacir Anastácio de Carvalho seria proprietário da Fazenda Caconha localizada no distrito de Carvalho, município de Tamboril – CE. A mudança de titularidade teria ocorrido em 19 de julho de 2014 e o proprietário antigo era Anastácio Jose de Carvalho – 170.860.943-15. Este imóvel rural não se encontra declarado ao Fisco”, informa o relatório.

Chamou a atenção do Fisco ainda a compra de um apartamento, próximo à praia, pago à vista pelo valor de 297.211 reais no bairro do Meirelles, em Fortaleza. A aquisição do imóvel está em uma das cinco Declarações sobre Operações Imobiliárias (DOI) envolvendo Moacir Anastácio de Carvalho identificadas pela Receita.

“De acordo com as DOIs apresentadas em 2015 o contribuinte tomou posse de dois imóveis, um em Águas Claras (DF), por meio de doação, e outro em Fortaleza. Embora nas declarações do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física conste imóveis em Águas Claras e em Fortaleza não ficou claro se são os mesmos imóveis”, relata o Fisco.

Na denúncia criminal em que acusa Gim Argello e outros oito investigados de arquitetar um esquema de pagamento de ao menos 5,3 milhões de reais em propinas de evitar a convocação de empreiteiros investigados na Lava Jato para depor em CPIs, a Procuradoria dedica um trecho do documento à ligação entre o padre e o ex-senador. Os investigadores apontam que o padre Moacir Anastácio ‘”é o responsável por promover a festa religiosa denominada Festa de Pentecostes, em Taguatinga, que arregimenta milhões de pessoas’.

“Na referida festa de Pentecostes, Moacir Anastácio, notadamente, em época das eleições, como no caso do escrutínio de 2014, enaltece a figura de candidatos políticos, e, foi nessa ocasião, que promoveu a imagem de Gim Argello, alcunhando-o de ‘Senador de Pentecostes’. A proximidade de Gim Argello com o Padre Moacir Anastácio se corrobora pela existência de pelo menos 58 ligações telefônicas, no período de 19 de março de 2014 a 26 de agosto de 2014”, destacaram os procuradores na denúncia.

A reportagem ligou e mandou mensagem para o celular do padre Moacir Anastácio, mas não houve retorno.

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