Vivenciar a sexualidade de forma plena continua a despontar na lista dos tabus comportamentais para as brasileiras, principalmente quando é necessário reconhecer e procurar apoio para tratar disfunções sexuais femininas. Entre as queixas mais comuns, estão dificuldade para atingir oorgasmo e falta de interesse pelo sexo, que é um dos quatro pilares da qualidade de vida, ao lado de satisfação com o trabalho, convivência com a família e lazer, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Um recorte da pesquisa Mosaico 2.0 (versão atualizada de um estudo de 2008, que se consolidou como o maior levantamento sobre sexualidade realizado no Brasil) mostra que 32,5% das mulheres sentem dificuldade em se interessar por sexo, 25,9% acreditam que as disfunções sexuais afetam a autoestima e 21,8% alegam que essa situação interfere no relacionamento. Divulgado este ano, o estudo serve para alertar sobre a importância de as mulheres levarem essas queixas para as consultas médicas e, assim, passarem a ser contempladas com tratamento para os distúrbios sexuais que mais afligem.
“É preciso avaliar a causa dessas dificuldades que aparecem nas fases da relação sexual, como diminuição de libido, que é a falta de vontade de ter relação sexual, disfunção de excitação, dificuldade para ter orgasmo e dores durante o sexo. Se um quadro de depressão, por exemplo, estiver associado às queixas, é preciso encaminhar para um psiquiatra”, esclarece a ginecologista Karina Cidrim, sexóloga do Hospital da Mulher do Recife (HMR), que conta com um ambulatório de sexologia – o único do gênero na rede pública de saúde do Estado. No serviço, de 10 a 15 pacientes são atendidas por semana. O caminho para a mulher ter acesso ao HMR é pela atenção básica de saúde. As Upinhas, as Unidades de Saúde da Família ou os postos de saúde fazem o encaminhamento para o ambulatório de sexologia do hospital.
O detalhe é que muitas mulheres não se sentem à vontade para contar sobre as disfunções sexuais numa consulta de rotina – ou é dada a ela pouca ou nenhuma chance para iniciar uma conversa sobre o assunto. Nesse sentido, elas podem perder a oportunidade de receber suporte para explorar a sexualidade com autoconfiança. “É preciso dar esse espaço nas consultas, mas infelizmente são queixas difíceis de ser manifestadas e, por outro lado, também são mal ouvidas. Às vezes, as disfunções vêm camufladas por falta de lubrificação vaginal e dores durante a relação. Quando destrincho a conversa, percebo que há um problema sexual a ser resolvido”, frisa a ginecologista e especialista em sexualidade feminina Angelina Maia, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.
O depoimento da médica lança um olhar para a importância de se garantir a atenção à sexualidade nos serviços de saúde, que precisam ser organizados para que a mulher se sinta à vontade e reivindique o direito ao prazer e ao tratamento da insatisfação sexual.
Nesse sentido, a indicação da terapêutica vai depender especialmente do grau de sofrimento decorrente das queixas. “Precisamos avaliar até que ponto a desmotivação sexual, por exemplo, incomoda e desarmoniza a relação do casal. Investigamos também se a disfunção é acompanhada por um distúrbio hormonal, uma infecção ou outros problemas. O importante é saber que a terapia sexual tem boa efetividade”, esclarece a coordenadora do Ambulatório da Mulher do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), Ana Laura Ferreira.
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