Peu Ricardo/Esp.DP

O ciclo acabou. Milton Mendes não é mais técnico do Santa Cruz. Campeão pernambucano e da Copa do Nordeste no começo do ano, o treinador não suportou mais uma derrota na Série A do Brasileiro. O estopim para a saída do comandante foi o 2 a 1 sofrido para o São Paulo, no Arruda, no domingo. Na coletiva pós-jogo, o treinador já mostrava desânimo com a situação da equipe e acabou dando indícios de que poderia mesmo não seguir no clube. Diante desse cenário, a saída do treinador deve ser comunicada oficialmente na tarde desta terça-feira.

Contratado em 28 de março, o técnico deixa o Santa Cruz depois da última rodada do primeiro turno de um campeonato em que iniciou bem. Chegou a levar o Tricolor até à liderança da Série A entre a segunda e terceiras rodadas. Com a equipe sem render, imersa na zona de rebaixamento há três jogos e há quatro sem vencer, atingiu o seu limite, se contradisse a um discurso de permanência que pregava e resolver pediu a rescisão de contrato assim que terminou o duelo com o São Paulo. Porém, o presidente Alírio Moraes não acatou o pedido. Mendes viajou para Porto de Galinhas, em Ipojuca, onde amadureceu ainda mais a ideia de deixar o Arruda, na segunda-feira de folga. Após mais uma reunião com a diretoria nesta terça, expôs de novos os seus argumentos e obteve a liberação.

Com aproveitamento de técnico demitido e pior entre os empregados no Brasileiro, Milton Mendes exauriu as suas energias para recuperar o time. Tentou mudar peças, encaixar alguns reforços e até mudar o esquema tático que implantou no Santa Cruz. Nenhuma dessas tentativas, entretanto, surtiu efeito e o time tricolor acabou encerrando o turno com a mesma pontuação de 2006, quando o participou pela última vez da elite (a única no sistema de pontos corridos) e foi rebaixado com três rodadas de antecedência numa campanha desastrosa – a terceira pior na atual fórmula de disputa.

Entusiasta dos estudos táticos, dono do certificado Uefa Pro de treinadores e de frases de efeito, Mendes, de fato, mudou a cara da equipe do Santa Cruz quando substituiu Marcelo Martelotte às vésperas das quartas de final do Nordestão e da reta final do Pernambucano. Foi vitorioso em ambas as competições. Deu um inédito título regional ao clube e, inegavelmente, entrou para a história do clube coral.

Ele adotou estilo “paizão” no início de sua trajetória no Arruda ao transmitir confiança e recuperar atletas que estavam sem espaço no time. Fez um desacreditado Santa voltar a render o que não rendia mais com o antecessor. Alcançou a marca de 18 jogos de invencibilidade, perdida na 5ª rodada do Brasileiro, ao sair derrotado em casa no clássico com o Sport. Baque pesado. A partir de então, viu a equipe entrar em declínio técnico. Viu ainda a “família” que soergueu ruir em um vestiário que se tornara, por muitas vez, turbulento, segundo informações colhidas pela reportagem ao longo da passagem do treinador no Arruda. Existiram conflitos com membros da comissão técnica e também com alguns jogadores.

O catarinense de 51 anos trabalhou com um elenco que só foi se encorpar no mês passado. Ainda assim, na maioria das posições, não foi atendido como queria pela diretoria e nem tinha perspectiva de ser. Fato que pesou bastante também para que entregasse o cargo. A diretoria enfrentou dificuldades no mercado por não dispor de dinheiro suficiente. Situação que se agravou quando a Justiça do Trabalho reteve, no mês passado, as cotas de televisão (principal fonte de renda do clube) por causa de dívidas antigas. Sem ter contratado durante o regional e o estadual, Mendes trouxe, portanto, 12 peças sem “grife” de Série A para o Brasileirão, dos quais metade já havia trabalhado com ele. Nenhuma delas conseguiu render até aqui.

Milton recebeu uma alta remuneração, acima da média história paga pelo Santa Cruz para treinadores. Conviveu coma uma estrutura longe do ideal e cobrou melhorias estruturais. Publicamente, chamou muitas vezes a culpa das derrotas para si. Contudo, não escondia que precisava de peças mais qualificadas no elenco para jogar uma Primeira Divisão. O comandante deixa o José do Rego Maciel com um desempenho que já não era bom: apenas: 46,87% de aproveitamento e um número de derrotas quase igual ao de vitórias.

Números

32
Jogos

12
Vitórias

9
Empates

11
Derrotas

46,87%
Aproveitamento

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